A “cordialidade” do povo brasileiro frente à imigração de venezuelanos em roraima: uma discussão sobre a xenofobia

Autores

  • Renan VIDAL MINA Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
  • José Rodolfo TENÓRIO LIMA Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Palavras-chave:

Xenofobia, Venezuelanos, Roraima, Brasileiros, cordialidade

Resumo

Um dos principais reflexos da chegada de milhares de venezuelanos em Roraima é a emergência das ações xenófobas por parte dos brasileiros que lá residem. Tal contexto tem colocado em cheque, uma vez mais, a ideia de cordialidade do povo brasileiro. Recorrendo às falas de alguns atores brasileiros divulgadas em portais de notícias vinculados a Roraima, bem como às publicações dos sujeitos em perfis específicos do Facebook, e ainda utilizando como alicerce metodológico a teoria simmeliana acerca da forma e conteúdo, buscamos extrair os pressupostos que estão envoltos na materialização da xenofobia frente aos venezuelanos. O objetivo foi tentar entender o que está se passando em Roraima, categorizando as ações xenófobas entre o “menos extremo” e o “mais extremo”, e identificando os pressupostos (a priori) que estão balizando a construção da xenofobia enquanto configuração social. Notamos que a xenofobia tem se apresentado como fruto de um conjunto de pressupostos específicos manifestados por alguns brasileiros, que passam a culpabilizar os venezuelanos pelo aumento da violência, criminalidade, etc. Percebemos também que a xenofobia materializa-se em dimensões que vão desde a violência simbólica (xingamentos, por exemplo) até ações mais extremas, isto é, a violência física contra os imigrantes (atentados e homicídios).

Biografia do Autor

Renan VIDAL MINA, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Doutorando em Sociologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Geografia pela Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG). Mestre em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política da Universidade de São Paulo (USP)

José Rodolfo TENÓRIO LIMA, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Doutorando em Sociologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor Assistente do curso de Administração Pública da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), campus Arapiraca

Referências

Albuquerque Júnior, D.M. (2016). Xenofobia: medo e rejeição ao estrangeiro. São Paulo: Cortez Editora.

Arendt, H. (2012). Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras.

Becker, H.S. (2008). Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Calil, L., Ruediger, T.T., Barboza, P. (2018). Análise de redes sobre imigrantes venezuelanos aponta para o desafio migratório em Roraima. FGV/DAPP. Recuperado de http://dapp.fgv.br/analise-de-redes-sobre-refugiados-venezuelanos-aponta-para-o-desafio-migratorio-em-roraima/.

Cogo, D., Badet, M. (2013). De braços abertos... A construção midiática da imigração qualificada e do Brasil como país de imigração. In: E. Araújo, M. Fontes, S. Bento (orgs.). Para um debate sobre mobilidade e fuga de cérebros. Braga: CECS, 32-57.

Cohn, G. (1979). Crítica e resignação: fundamentos da sociologia de Max Weber. São Paulo: T.A. Queiroz.

Cohn, G. (1998). As diferenças finas: de Simmel a Luhmann. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 13 (38), 53-62.

Correia, C. (2018, mar. 20). Moradores invadem abrigo e expulsam venezuelanos de cidade do interior de Roraima. UOL. Recuperado de https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/03/20/moradores-invadem-abrigo-e-expulsam-venezuelanos-de-cidade-do-interior-de-roraima.htm.

Costa, E., Brandão, I., Oliveira, V. (2018, abr. 06). Fuga da fome: como a chegada de 40 mil venezuelanos transformou Boa Vista. G1. Recuperado de https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/fuga-da-fome-como-a-chegada-de-40-mil-venezuelanos-transformou-boa-vista.ghtml.

Costa, E., Oliveira, V. (2018, abr. 29). Guerra entre facções rivais faz disparar índices de homicídios em Boa Vista. G1. Recuperado de https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/guerra-entre-faccoes-rivais-faz-disparar-indices-de-homicidios-em-boa-vista.ghtml.

Farah, P.D. (2017). Combates à xenofobia, ao racismo e à intolerância. Revista USP, (114), 11-30.

Félix, J. (2018, fev. 09). Vídeo mostra homem causando explosão com combustível em casa onde vivem 31 venezuelanos em Boa Vista. G1. Recuperado de https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/video-mostra-homem-causando-explosao-com-gasolina-em-casa-onde-vivem-31-venezuelanos-em-boa-vista.ghtml.

Ferreira, J. (2018, abr. 16). Aumentam em 192% ocorrências policiais envolvendo venezuelanos, afirma governo. Roraima em tempo. Recuperado de http://roraimaemtempo.com/aumentam-em-192-ocorrencias-policiais-envolvendo-venezuelanos-afirma-governo/.

Hall, M. (2004). Imigrantes na Cidade de São Paulo. In: P. Porta (org.). História da cidade de São Paulo: a cidade na primeira metade do século XX: 1890-1954. v. 3. São Paulo: Paz e Terra, 121-151.

Holanda, S.B. (1995). Raízes do Brasil. (26. ed.). São Paulo: Companhia das Letras.

IBGE (2017). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua. Educação 2017. Recuperado de https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/05dc6273be644304b520efd585434917.pdf.

Jakob, A.A.E. (2015). A migração internacional recente na Amazônia brasileira. REMHU - Revista Interdisciplinar de Mobilidade Urbana, (45), 249-271.

Marchao, T. (2018, fev. 20). Transporte caro ou dias a pé: como é a travessia dos venezuelanos para viver no Brasil. UOL. Recuperado de: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/02/26/fronteira-venezuela-pacaraima.htm.

Ministério da Justiça. (2016). Refúgio em números. Recuperado de: http://www.justica.gov.br/news/brasil-tem-aumento-de-12-no-numero-de-refugiados-em-2016/20062017_refugio-em-numeros-2010-2016.pdf.

OIM (2018a). Tendências migratórias nacionais na América do Sul: República Bolivariana da Venezuela. Recuperado de https://robuenosaires.iom.int/sites/default/files/Informes/Tendencias_Migratorias_Nacionales_en_America_del_Sur_Vzla_Portugues.pdf.

OIM. (2018b). Monitoramento do Fluxo Migratório Venezuelano. Recuperado de http://robuenosaires.iom.int/sites/default/files/Informes/DTM/MDH_OIM_DTM_Brasil_N1.pdf.

Prazeres, L. (2018). “Não posso deixar que Roraima vire um campo de concentração”, diz governadora sobre venezuelanos. UOL. Recuperado https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/04/18/nao-posso-deixar-que-roraima-vire-um-campo-de-concentracao-diz-governadora-sobre-venezuelanos.htm.

Ribeiro, D. (2006). O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.

Rodrigues, F. (2006). Migração transfronteiriça na Venezuela. Estudos Avançados, São Paulo, 20 (57), 197-207.

Roraima 24 Hrs. (2018). Roraizuela. Facebook. Recuperado de: https://www.facebook.com/search/top/?q=RORAIZUELA.

Silva, C. R. (2018). Migração de venezuelanos para São Paulo: reflexões iniciais a partir de uma análise qualitativa. In: R. Baeninger, et al. (orgs.). Migrações Sul-Sul. Campinas: Nepo/Unicamp, 356-367.

Simai, S., Baeninger, R. (2012). Discurso, negação e preconceito: bolivianos em São Paulo. In: R. Baeninger (org.). Imigração boliviana no Brasil. Campinas: Nepo/Unicamp, 195-210.

Simmel, G. (1986). Sociología 1: estudos sobre las formas de socialización. Madrid: Alianza Editorial.

Simmel, G. (2005). O estrangeiro. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, 4 (12), 265-271.

Simmel, G. (2006). Questões fundamentais da sociologia: indivíduo e sociedade. Rio de Janeiro: Zahar.

Simmel, G. (2010). Life as Transcendence. In: The View of Life: Four Metaphysical Essays with Journal Aphorisms. Chicago: University of Chicago Press, 1-18.

Simões, G.F. (2017). Venezuelanos em Roraima: características e perfis da migração venezuelana para o Brasil. In: T. Cierco, et al. (orgs.). Fluxos migratórios e refugiados na atualidade. Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer Stiftung, 45-56.

Souza, J. (2017). A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya.

Publicado

2018-12-31