Conflitos por água, territórios empresariais e complexos hidrelétricos na Amazônia brasileira

Autores

Palavras-chave:

privatização da água, territórios empresariais, desastres hidrelétricos, direitos territoriais na Amazônia.

Resumo

A abundância dos chamados “recursos hídricos” no Brasil vem escorando um regime de acumulação especializado no processamento e exportação de commodities agrícolas e minerais que foi se consolidando ao longo dos anos 1990 e 2000. A denominação “neodesenvolvimentista”, acoplada a esse modelo neoextrativista, foi uma ambígua estampa que buscava legitimar a indução governamental dos mercados e vice-versa, desde que o resultado final fosse o favorecimento da concentração e internacionalização de capitais. A fim de demonstrar como se deu esse emparelhamento entre Estado e capital no Brasil, analisamos os marcos regulatórios  dos setores de infraestrutura e de exploração de recursos naturais para verificar continuidades ou inflexões entre 2003 e 2018, além de projetos de infraestrutura implementados nesse período na região Amazônica. O objetivo central desse ensaio é explicitar a vigência de uma relação de ordem direta entre o posicionamento relativamente vantajoso, no plano global, dos oligopólios postados no país e o avanço regular da mercantilização de bens sociais e do aprofundamento da privatização selvagem dos setores essenciais de infraestrutura, naquilo que pode ser denominado como uma competitividade perversa, social e ambientalmente regressiva.

Biografia do Autor

Luis Fernando NOVOA GARZON, Universidade Federal de Rondônia, Brasil

professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e vinculado ao Departamento de Ciências Sociais. Tem formação na área de Ciência Política e é doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR-UFRJ. Coordena o Grupo de Pesquisa "Territorialidades e Imaginários na  Amazônia" na UNIR e é um dos coordenadores do Programa de Pesquisa "BNDES: grupos econômicos, setor público e sociedade civil no contexto nacional e internacional”, vinculado ao Laboratório ETTERN (Estado, Território, Trabalho e Natureza) do IPPUR/UFRJ. Foi assessor de missões da Plataforma DHESCA (Plataforma de Direitos Humanos. Atuou entre 2002 e 2009 em Grupos de Trabalho da REBRIP (Rede Brasileira pela Integração dos Povos) e da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais.

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Publicado

2019-06-30