Caminhos dos sentidos: penitência e alaridos na Romaria do Senhor dos Passos de São Cristóvão (Brasil, 1903-1978)

Autores

Palavras-chave:

São Cristóvão, Sergipe, romaria, intelectuais, reforma devocional católica, conflito religioso, penitência

Resumo

A procissão dos Passos na cidade de São Cristóvão é considerada a principal solenidade religiosa de Sergipe, estado do Nordeste brasileiro. Desde o século XIX, na segunda semana da Quaresma, a cidade passava por um período de júbilo, regozijava com romeiros se deslocando dos mais diversos recônditos no intuito de cumprir sua desobriga e renovar seus pedidos. Era uma romaria que reunia os segmentos populares e os principais nomes da elite açucareira da região. Era uma romaria oficial do Império do Brasil. Nessa pesquisa, o objeto é a reinvenção dessa romaria ao longo do século XX, provocando conflitos e inquietações entre diferentes segmentos sociais que tentaram se apropriar do evento. O principal conflito ocorreu entre os membros da antiga Ordem Terceira do Carmo, organizadora da romaria, e os frades franciscanos oriundos da Alemanha, que a partir de 1903 assumiram a Paróquia Nossa Senhora da Vitória e tentaram promover o processo de reforma devocional, combatendo as práticas devocionais tidas como inadequadas e o poder dos leigos na celebração. Essa querela envolveu religiosos, leigos, políticos republicanos, romeiros das camadas populares, membros das irmandades e intelectuais preocupados com os efeitos da modernização do estado e com a destruição das tradições.

Biografia do Autor

Magno Francisco de Jesus Santos, Universidade Federal Fluminense, Brasil

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de História e dos Programas de Pós-Graduação em História (PPGH/UFRN) e em Ensino de História (PROFHIS/UFRN) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É integrante do Grupo de Pesquisa Teoria da História, Historiografia e História dos Espaços (UFRN).

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Publicado

2020-12-31