Entre liberdade individual e saúde coletiva: saberes e práticas em caso de descontinuidade do tratamento da tuberculose

Autores

Palavras-chave:

tuberculose, liberdade individual, tratamento, saúde pública, risco

Resumo

A tuberculose permanece causando sofrimento humano e morte em pleno século XXI, representando um relevante problema de saúde pública. O artigo analisa os conflitos entre a liberdade individual e a saúde pública relacionados ao tratamento da tuberculose e como eles são percebidos e gerenciados pelos profissionais e contatos envolvidos no processo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual entrevistas semi-estruturadas foram realizadas com os contatos dos portadores de tuberculose, bem como, com os profissionais de saúde da Vigilância Epidemiológica e da Estratégia Saúde da Família, envolvidos no Controle da Tuberculose no município de Araçuaí - MG. Na análise dos dados verificou-se a tensão entre a liberdade individual e a saúde pública, evidenciando que a descontinuidade do tratamento se relaciona com os dois sentidos políticos de liberdade. Enquanto no sentido negativo a pessoa é considerada livre quando nenhuma pessoa ou grupo interfere em suas ações, no sentido positivo, a liberdade é compreendida como a autodeterminação do indivíduo. Portanto, considerando os riscos que a liberdade na decisão por não aderir ao tratamento (sentido positivo) pode acarretar para a coletividade, a concepção de liberdade negativa aplicada pelo sistema de saúde brasileiro está baseada na interferência, exigindo condutas e estratégias diante desses casos.

Biografia do Autor

Francisca Souza Santos Dias, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais

Possui Graduação em Bacharel em Enfermagem pela Universidade Estadual de Montes Claros (2009), mestrado em Sociologia política pela Universidade Federal de Santa Catarina (2015). Exerce a função de docente no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais.

Marcia Grisotti, Federal University of Santa Catarina

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (1987), mestrado em Sociologia política pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992), doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (2003) e pós-doutorado realizado na École des Hautes Études em Sciences Sociales (EHESS) e Collège de France (2015). Exerceu a função de coordenadora do programa de Pós-graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina e de coordenadora científica do Programa Erasmus Fellow Mundus (União Europeia). É coordenadora do Núcleo de Pesquisa: Ecologia Humana e Saúde, vinculado ao programa de Pós-graduação em Sociologia Política da UFSC.

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Publicado

2019-12-31