A dimensão subjetiva no processo saúde/enfermidade/atenção – reflexões envolvendo uma comunidade rural haitiana

Autores

Palavras-chave:

Haiti, percurso terapêutico, placebo/nocebo, vodou, violência estrutural

Resumo

A dimensão simbólica do processo saúde/enfermidade/atenção está presente na representação das enfermidades de forma diferente em cada grupo social. Nesta representação, a conceituação etiológica e as estratégias de cura podem incluir uma multiplicidade de saberes, as quais orientam o percurso terapêutico do paciente. O modelo explicativo utilizado pela comunidade de Kaydesa, Haiti, revela uma série de símbolos e construções culturais envolvidos na aflição e na enfermidade, onde salienta-se a influência das perspectivas psicossociais neste processo e o legado histórico da violência estrutural. Este artigo pretende lançar luz acerca dos aspectos subjetivos do processo saúde/enfermidade/atenção e sob este prisma refletir proposições teóricas sobre a ação placebo e nocebo mediada pela cultura vodou, bem como a postura da medicina oficial frente a estes conceitos no contexto sócio econômico local. Conclusão: a partir das reflexões é possível reconhecer a conexão existente entre o efeito placebo e nocebo no processo saúde/enfermidade/atenção e identificar a influência da violência estrutural no âmbito da saúde pública em Kaydesa, a qual manifesta-se interferindo na representação das doenças e nas práticas em saúde dos moradores locais.

Biografia do Autor

Fabiane Gioda, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis, SC, Brasil.

Amanda Faqueti, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis, SC, Brasil.

Referências

Ader, R. (1983). Developmental psychoneuroimmunology. Developmental Psychobiology, (16), pp. 251-267. https://doi.org/10.1002/dev.420160402

Balleiro, E. M., & Balleiro, C. O. (2000). Efeito Placebo e o Efeito Nocebo nos Procedimentos Terapêuticos. Disponível em http://www.cibersaude.com.br/index1.asp

Bateson, G. (1972). Style, Grace and Information in Primitive Art. In G. Bateson (Ed.), Steps to an Ecology of Mind (pp. 128-152). Nova York, NY: Ballantine Books.

Baptista, J. R. de C. (2012). Sè tou melanje: uma etnografia sobre o universo social do vodu haitiano (tese de doutorado). Rio de Janeiro, Brasil: Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Brodwin, P. (1996). Medicine and Morality in Haiti: The Contest for Healing Power. Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press. https://doi.org/10.1017/CBO9780511613128

Castiel, L. D. (1991). Psicossomática e eficácia: Além do Princípio do Placebo. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 40(5), pp. 267-272.

Celestino, C, A. (1992). O uso do placebo no tratamento de mulheres climatéricas. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 3(1), pp. 105-110.

CIA World Factbook. (2017). Field Listing: Maternal Mortality Rate. Disponível em https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/353.html

Colin, J., & Paperwalla, G. (2003). Haitians. In P. S. Hill, J. G. Lipson & A. I. Meleis (Eds.), Caring for Women cross-culturally (pp. 172-187). Philadelphia, PA: F.A. Davis.

Dossey L. (1997). Medicine, meaning and prayer. In L. Dossey et al. (Eds.), The power of meditation and prayer (pp. 4-5). Carlsbad, CA: Hay House.

Evans-Pritchard, E. E. (1976), Brujeria, magia y oráculo entre los azande. Barcelona, Espanha: Anagrama.

Foster, G. (1976). Disease Etiologies in Non-Western Medical Systems. American Anthropologist, (78), pp. 772-782. https://doi.org/10.1525/aa.1976.78.4.02a00030

Freeman, B. C. (1998). Third-World Folk Beliefs and Practices: Haitian Medical Anthropology. Port-au-Prince, Haiti: La Presse Evangélique.

Galtung, J. (1969). Violence, Peace, and Peace Research. Journal of Peace Research, 6(3): pp. 167-191. https://doi.org/10.1177/002234336900600301

Gioda, F. R. (2017). Agentes, saberes e práticas no processo saúde/doenças no Haiti (tese de doutorado). Florianópolis, Brasil: Universidade Federal de Santa Catarina.

Hernáez, A. M. (2008). Antropología médica: teorías sobre la cultura, el poder y la enfermedad. Barcelona, Espanha: Anthropos.

Hurbon, L. (1987). O Deus da Resistencia Negra – O vodu Haitiano. São Paulo, Brasil: Paulina.

Kleinman, A. M. (1980). Patients and Healers in the context of culture. Berkeley: University of California Press.

Kleinman A. M., & Good, B. J. (1985). Culture and Depression. Studies in the Anthropology and Cross-Cultural Psychiatry of Affect and Disorder. Berkeley: University of California Press.

Langdon, E. J. (2014). Os diálogos da antropologia com a saúde: contribuições para as políticas públicas. Ciência & saúde coletiva, (19), pp. 1019-1029. https://doi.org/10.1590/1413-81232014194.22302013

Maia, Â. (2002). Emoções e sistema imunológico: um olhar sobre a psiconeuroimunologia. Psicologia: Teoria, Investigação e Práctica, (2), pp. 207-225.

Menéndez, E. L. (2009). Modelos de atención de los padecimientos: de exclusiones teóricas y articulaciones prácticas. Ciência & saúde coletiva, (8), pp. 185-207. https://doi.org/10.1590/S1413-81232003000100014

Michel, C. (2002). ¿El vudú haitiano es un humanismo? CUYO. Anuario de filosofía argentina y americana, (18/19), pp. 123-144.

Minn, P. (2001). Water in Their Eyes, Dust on Their Land: Heat and Illness. Journal of Haitian Studies, 7(1), pp. 4-25.

Métraux, A. (1972). Le vaudou haitien. Paris, França: Gallimard.

Nicolas, G., Desilva, A. M., Subrebost, K. L., Breland-Noble, A., Gonzalez-Eastep, D., Manning, N., & Prater, K. (2007). Expression and treatment of depression among Haitian immigrant women in the United States: clinical observations. American journal of psychotherapy, 61(1), pp. 83-98. https://doi.org/10.1176/appi.psychotherapy.2007.61.1.83

Pereira, D. A., & Farnese, C. (2004). Efeito placebo, efeito nocebo e psicoterapia: correlações entre os seus fundamentos. Universitas: Ciências da Saúde, 2(1), pp. 69-90. https://doi.org/10.5102/ucs.v2i1.524

Roberto G. L. (2004). Espiritualidade e saúde. In E. F. B. Teixeira, M. C. Müller, & J. D. T. da Silva (Eds.), Espiritualidade e qualidade de vida (pp. 151-163). Porto Alegre, Brasil: Edipucrs.

Rossi, E. L. A. (1997). Psicobiologia da Cura Mente-Corpo: Novos Conceitos de Hipnose Terapêutica. Campinas, Brasil: Psy.

Selye, H. (1976). The stress of life. Nova York: McGraw-Hill.

Silva, V. G. D. (2007). Neopentecostalismo e religiões afro-brasileiras: Significados do ataque aos símbolos da herança religiosa africana no Brasil contemporâneo. Mana, 13(1), pp. 207-236. https://doi.org/10.1590/S0104-93132007000100008

Sterlin, C. (2006). Pour une approche interculturelle du concept de santé. Ruptures : revue transdisciplinaire en santé, 11(1), pp. 112-121.

Stephen, M. D. (2002). Remissão Espontânea e Efeito Placebo. Disponível em https://www.oocities.org/quackwatch/placebo.html

Thomas-Stevenson, B. (1991). Ozarkian and haitian folk medicine. Disponível em http://faculty.webster.edu/corbetre/haiti/misctopic/medicine/ozark.htm

Tosta, C. E. (2004). Prece e cura. In E. F. B. Teixeira, M. C. Müller, & J. D. T. Silva (Eds.), Espiritualidade e qualidade de vida (pp. 105-124). Porto Alegre, Brasil: PUCRS.

Yap, P. M. (1965). A culture-bound despersonalization syndrome. The British Journal of Psychiatry. 111(470), pp. 43-50. https://doi.org/10.1192/bjp.111.470.43

Publicado

2020-06-30