Cada jurema é uma jurema: Continuidade, rupturas e inovações em religiosidades no Brasil

Autores

Palavras-chave:

jurema, religiosidades, juremahuasca, enteógeno, Brasil

Resumo

No Brasil, algumas plantas, bebidas e religiosidades são chamadas de jurema. Desde o período colonial, se registra o uso ritual da jurema entre indígenas do Nordeste do Brasil. Além disso, a jurema emerge com novas feições em uma religiosidade chamada catimbó, encadeada a partir daqueles ritos, e a qual foi alcançada pela umbanda em meados do século XX. A umbanda se reatualizou em contato com o catimbó, o qual garantiu um lugar para os juremeiros no seu interior ao ponto de encontrarmos na região uma religiosidade conhecida e praticada simplesmente como jurema. Em tais contextos, os fenômenos místicos são considerados relativos a forças misteriosas e elementos encantados. Contudo, cientes de que a jurema contém grande quantidade do alcaloide DMT, psiconautas no exterior do Brasil usaram esta planta misturada com outra oriunda do Oriente para elaborar uma bebida capaz de produzir significativos efeitos psicoativos. Chamada de juremahuasca, essa bebida passou a ser ritualizada no Brasil, onde ganhou contornos de religiosidades, inclusive institucionalizadas. Este artigo evoca essas correntes religiosas, sinalizando suas continuidades, rupturas e reformulações, mas focando mais enfaticamente na juremahuasca que faz parte religiosidades psiconáuticas enteogênicas próprias ao contexto de um misticismo alternativo no Brasil.

Biografia do Autor

Robson Savoldi, Universidade Federal de Pernambuco

Robson Savoldi é psicólogo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Neurociências pela mesma universidade. Atualmente é doutorando em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) no qual pesquisa Ayahuasca, Jurema, Consciência e Autoconsciência. Suas áreas de estudo são enteógenos, psicologia cognitiva da religião, interações socioculturais, enriquecimento ambiental, percepção, consciência, melhora de performance cognitiva.

Rodrigo de Azeredo Grunewald, Universidade Federal de Campina Grande

Rodrigo de Azeredo Grünewald é professor titular de Antropologia da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS/UACS/UFCG). Defendeu tese de doutorado em Antropologia Social no Museu Nacional (UFRJ) em janeiro de 2000. Através de programa de pós-doutorado, atuou como visiting scholar no Departamento de Antropologia da Universidade da Califórnia em Berkeley entre 2005 e 2006. Além de publicações acadêmicas, tem atuado em trabalhos diversos junto a sociedades indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais. Destaca-se ainda a inserção do autor na área dos estudos sobre psicoativos, em especial sobre o uso ritual da jurema. Foi membro fundador da Associação Brasileira de Estudos Sociais do Uso de Psicoativos (ABESUP). Atualmente é coordenador do Laboratório de Estudos sobre Tradições (LETRA/UFCG), atuando nas áreas de pesquisa sobre performance, religiosidades, turismo, patrimônio, territorialidades e etnicidade de povos e comunidades tradicionais de modo geral.

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Publicado

2020-12-31