Esboço de uma sociologia dos problemas íntimos: As coabitações e “passagens” de um único self entre evangelismo e crime
Palavras-chave:
sociology of intimate problems, trafficking, Church, Pentecostalism, morality, conversionResumo
Este artigo é um estudo sobre a trajetória de vida e as modificações de si de um único ator a partir dos processos de transformação ocorridos, nas últimas décadas, nas favelas cariocas, focando-se na relação entre evangélicos e traficantes de droga. Com base em uma etnografia de quase dois anos na Cidade de Deus, defendo que a religião e o tráfico se apresentam sob a modalidade de formas de vida que se emaranham e se transformam mutuamente. Para isso, desenvolvo o que chamo de sociologia dos problemas íntimos, isto é, uma metodologia que visa apreender um único convertido através de seus problemas. Argumento, por fim, que essa análise do processo de transformação, em uma escala bem individual, me permite reelaborar o conceito de conversão para além de um 'conceito nativo' religioso e da narrativa clássica da conversão.
Referências
Abbott, A. (2001). Time matters: On theory and method. University of Chicago Press.
Alvito, M. (2001). As cores de Acari: Uma favela carioca. FGV.
Bankston, W. B., Forsyth, C. J., & Floyd, H. H. (1981). Toward a general model of the process of radical conversion: An interactionist perspective on the transformation of self-identity. Qualitative Sociology, (4), 279–297. https://doi.org/10.1007/BF00986741
Birman, P. (1996). Cultos de possessão e pentecostalismo no Brasil: Passagens. Religião e Sociedade, 17(1-2), 90–109.
Boas, F. (2010). Antropologia cultural. São Paulo, Editora Zahar.
Boltanski, L., & Thévenot, L. (1991). De la justification: Les économies de la grandeur. Gallimard.
Bourdieu, P. (1980). Le sens pratique. Editions de Minuit.
Bourdieu, P. (1986), L'illusion biographique. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, (62–63), 69¬–72. https://doi.org/10.3406/arss.1986.2317
Cefaï, D. (2002). Qu’est-ce qu’une arène publique? Quelques pistes pour une perspective pragmatiste. In D. Cefaï & I. Joseph (orgs.), L’héritage du pragmatisme (pp. 51–83). La Tour d’Aigues; Éditions de l’Aube.
Cefaï, D. (2015). Mondes sociaux: Enquête sur un héritage de l’écologie humaine à Chicago. SociologieS. https://doi.org/10.4000/sociologies.4921
Chateauraynaud, F. (2011). Argumenter dans un champ de forces: Essai de balistique sociologique. Petra.
Côrtes, M. (2007). O bandido que virou pregador: A conversão de criminosos ao pentecostalismo e suas carreiras de pregadores. Aderaldo & Rotschild; Anpocs.
Corrêa, D. (2015). Anjos de fuzil: Uma etnografia das relações entre tráfico de drogas e igreja evangélica [Doctoral thesis, Universidade do Estado do Rio de Janeiro].
Corrêa, D. (2020) Entre o querer e o não querer: dilemas existenciais de um ex-traficante na perspectiva de uma sociologia dos problemas íntimos. Tempo Social, v. 32, n. 2, p. 175-204, 2020. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2020.159750
Corrêa, D. (2021). Novos rumos da teoria social a partir de três gestos da sociologia pragmática. Revista Brasileira de Ciências Sociais [online], v. 36, n. 105, 2021. https://doi.org/10.1590/3610505/2020
Corrêa, D., & Dias, R. (2016). Crítica e os momentos críticos: De la Justification e a guinada pragmática na sociologia francesa. Mana, 22(1), 67–99. https://doi.org/10.1590/0104-93132016v22n1p067
Corrêa, D., & Dias, R. (2020). The critique and its critical moments: The recent pragmatic turn in French sociology. Current Sociology, 68(6), 721–737. https://doi.org/10.1177/0011392120914702
Dewey, J. (1993). Logique: La théorie de l’enquête. PUF.
Dias, C. (2008). A igreja como refúgio e a Bíblia como esconderijo: Religião e violencia na prisão. Humanitas.
Ebaugh, H. R. (1988). Becoming an Ex: The process of role exit. The University of Chicago Press. https://doi.org/10.7208/chicago/9780226160535.001.0001
Feltran, G. (2014). O Valor dos pobres: A aposta no dinheiro como mediação para o conflito social contemporâneo. Caderno CRH, 27(72), 495–512. https://doi.org/10.1590/S0103-49792014000300004
Feltran, G. (2020). Das Prisões às periferias: Coexistência de regimes normativos na “Era PCC”. Revista Brasileira de Execução Penal, 1(2), 45–71.
Fillieule, O. (org.) (2005). Le désengagement militant, Paris, Belin.
Gumperz, J. (1989). Engager la conversation: Introduction à la sociolinguistique interactionnelle. Minuit.
Ingold, T. (1996). Key debates in anthropology. Routledge.
James, W. (2002). The varieties of religions expérience. Dover Publications.
Koselleck, R. (2006). Futuro pasado: Contribuição à semântica dos tempos históricos. Contraponto; Editora Puc-RJ.
Lahire, B. (1998). L'Homme pluriel: Les ressorts de l'action. Nathan.
Latour, B. (1987). Science in action: How to follow scientists and engineers. Harvard University Press.
Latour, B. (1994). Jamais fomos modernos: Ensaio de antropologia simétrica. Editora 34.
Latour, B. (2005). Reassembling the social: An introduction to actor-network-theory. Oxford University Press.
Latour B., & Woolgar, S. (1979). Laboratory life: The social construction of scientific facts. Sage.
Lepetit, B. (1995). Les formes de l’expérience: Une autre histoire sociale. Albin Michel.
Lins, P., & Silva, M. de L. da. (1990). Bandidos e evangélicos: Extremos que se tocam. Religião e Sociedade, (15), 166–173.
Lofland, J., & Stark, R. (1965). Becoming a world-saver. American Sociological Review, (30), 862–875. https://doi.org/10.2307/2090965
Mead, G. H. (1972). The philosophy of the act. The University of Chicago Press.
Menezes, P. (2015). Entre o “fogo cruzado” e o “campo minado”: Uma etnografia do processo de “pacificação” de favelas cariocas [Doctoral thesis, Universidade do Estado do Rio de Janeiro].
Nock, A. D. (1998). Conversion: The old and the new in religion from Alexandre the Great to Augustine of Hippo. John Hopkins University Press.
Parsons, T. (1964). Social structure and personality. The Free Press of Glencoe.
Rambo, L. R. (1993). Understanding religious conversion. Yale University Press.
Revel, J. (1996). Jeux d'échelles: La micro-analyse à l'expérience. EHESS; Gallimard; Seuil.
Richardson, J. T. (1978). Conversion careers. Sage.
Sapir, E. (1949). Selected writings in language, culture, and personality. University of California Press.
Scheliga, E. L. (2004). Pesquisando conversão pentecostal em unidades penais. Religião e Sociedade, (24), 73–99.
Scheliga, E. L. (2005). Trajetórias religiosas, experiências prisionais: a conversão religiosa numa instituição penal. Comunicações do ISER, (61), 75–85.
Teixeira, C. (2008). O pentecostalismo em contextos de violência: uma etnografia das relações entre pentecostais e traficantes em Magé. Ciencias Sociales y Religión/Ciências Sociais e Religião, (10), 181–205. https://doi.org/10.22456/1982-2650.3982
Teixeira, C. (2011). A construção social do 'ex-bandido': Um estudo sobre sujeição criminal e pentecostalismo. 7Letras.
Teixeira, C. (2013). A teia do bandido: Um estudo sociológico sobre bandidos, policiais evangélicos e agentes sociais [Doctoral dissertation, Federal University of Rio de Janeiro]. UFRJ.
Tönnies, F. (1995). Comunidade e sociedade. In O. Miranda (Ed.), Para ler Ferdinand Tönnies. Edusp.
Valladares, L. do P., & Medina, C. A. (1968). Favela e religião: Um estudo de caso. CERIS.
Vital da Cunha, C. (2008). “Traficantes evangélicos”: Novas formas de experimentação do sagrado em favelas cariocas. Plural, (15), 13–46. https://doi.org/10.11606/issn.2176-8099.pcso.2008.75226
Vital da Cunha, C. (2014). Religião e criminalidade: Traficantes e evangélicos entre os anos 1980 e 2000 nas favelas cariocas. Religião & Sociedade, (34), 61–93. https://doi.org/10.1590/S0100-85872014000100004
Zaluar, A. (1985). A máquina e a revolta: As organizações populares e o significado da pobreza. Brasiliense.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista del CESLA. International Latin American Studies Review
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-ShareAlike 4.0 International License.